quinta-feira, 26 de maio de 2011

ENTREVISTA PETER WEIR E ELENCO DE CAMINHOS DA LIBERDADE


Elenco e diretor falam sobre "Caminhos da Liberdade"

Caminho da Liberdade (The Way Back) é o novo filme do diretor/roteirista Peter Weir (Mestre dos Mares). O Omelete, representado pelos nossos parceiros do Collider, falou com o Weir e seu elenco principal, formado por Ed Harris, Jim Sturgess e Colin Farrell.
O filme narra a jornada de um grupo de homens que escapa de um gulag, um campo de concentração da antiga URSS, na Sibéria, entre 1941 e 1942, e atravessa centenas de quilômetros por cinco países hostis até chegar a um local seguro. Veja a entrevista abaixo:

Inicialmente, este foi um projeto que você foi atrás ou que veio atrás de você? Você poderia falar sobre isso?

Ed Harris: Meu agente me contou que Peter Weir estava fazendo um filme, e que estava pensando em mim para um personagem. E eu lembro de dizer: "Independente de quem seja o personagem, independente do que tenha que fazer, eu quero o papel". Porque eu adorei trabalhar com Peter no Show de Truman e gostaria muito de trabalhar com ele novamente. Eu nem sabia do que o filme se tratava. Aí me mandaram o roteiro e fui conversar com Peter, e ele me perguntou se eu gostaria de fazer Mr. Smith, e eu disse: "Sim. Qualquer coisa..."

Peter Wier: Bem, eu acho que a verdade é que eu já tinha alguns atores em mente. Mas eu tentava não pensar neles enquanto trabalhava no roteiro, mas eu sempre visualizava o Ed Harris enquanto escrevia sobre  Mr. Smith, e pensava: "Não pense assim, ele pode não estar disponível ou não querer fazer". Nós trabalhamos juntos no Show de Truman e eu gostaria de fazer de novo.



Você trabalhou com alguém que eu considero um dos grandes diretores. Você pode falar um pouco sobre o começo, quando descobriu que ele  estaria interessado em você. Foi algo do tipo: "O quê? Peraí. O quê?".

Jim Sturgess: Sim, foi sim... Surgiu um boato de que ele queria se encontrar comigo, e fiquei extremamente empolgado, mas na época eu estava gravando um outro filme, então, tive que esperar até poder encontrar Peter. E ainda não tinha lido o roteiro, pois eu estava muito ocupado com este outro filme e estávamos no meio das filmagens noturnas, e nem tive tempo pra dormir, sabe?Então voltei pra casa depois de uma dessas filmagnes noturnas, joguei um pouco de água na cara, e disse enquanto me olhava no espelho: "Esta é sua chance, não estrague tudo."

Peter Weir: Sobre o Jim Sturgees, acho que em Across the Universe ele tinha uma qualidade, sabe? Foi por isso que Julie Taymor o contratou como um tipo de beatle, na verdade... Há algo muito dócil nele, que eu precisava para este personagem.

Quando você ficou sabendo que Peter Weir queria você no filme, foi do tipo: "O quê?"

Colin Farrell: Eu não sabia que ele queria que eu estivesse no filme, na verdade, só de saber que ele  estava fazendo um filme, já foi o suficiente para eu me inscrever para o papel e dizer: "O quê?" Então eu li o roteiro, gostei bastante, fiquei bastante emocionado, mas não estava tão atraído assim pelo personagem Valka. Bem, é inexplicável, mas às vezes você é atraído ao personagem e às vezes não é... E desta vez eu não estava até conhecer Peter.

Peter Weir: Eu vi quase tudo o que Colin Farrell fez. Eu fiquei pensando sobre alguma coisa para ele no filme. Eu nem tinha pensado num papel. Não imaginava que ele poderia fazer um russo tão bem quanto fez.



O que tinha na históra e no filme, que te fez dizer: "Eu tenho que fazer isso"?

Peter Weir: Eu acho que fiquei fascinado pela história, e aquele sentimento continuou comigo. Eu geralmente espero alguma semanas antes de responder qualquer coisa, só pra ver se isso ainda fica comigo. E com esse aqui foi assim. Acho que foi por causa da natureza épica dele.

Ed Harris: Ele sabe que o filme é sobre os personagens. Ele sabe que é principalmente sobre pessoas. Apesar da locação e das situações, a história vai ser sobre seres humanos.

Jim Sturgess: O interessante é que você está sempre pensando: "Quando é a performance. O que eu vou fazer? O que eu vou dar para essa performance?". Mas não era sobre isso, era sobre se deixar existir dentro de um ambiente e paisagens nas quais você é inserido.

Peter Weir: É uma caminhada de 6 mil km. Isso foi muito interessante para mim. Através dessas diversas paisagens. Pessoas tentando escapar para a liberdade e indo de encontro a aventuras e problemas. Eles eram pessoas comuns e um tanto inocentes. É aí que eu começo a pensar sobre a dimensão do espírito humano. Há muros de arame dentro destas pessoas. Pessoas comuns, como tinha dito, que podiam encontrar a vontade de viver, a vontade de sobreviver.



Ed Harris: E Peter cria os mundos nos quais eles habitam, para que os personagens sejam mais específicos. É cheio de pesquisa, o que os torna mais reais. Seja em O Show de Truman ou Mestre dos Mares, ou A Testemunha. Seja o que for, a atenção dele para os detalhes é impecável.

Colin Farrell: Mesmo quando estávamos falando com a imprensa há alguma semanas em Paris, entre as entrevistas, Peter me cochichava: "Aquele negócio sobre Valka era..." E nós acabamos as gravações há um ano... Quer dizer, ele… Quando ele abocanha um projeto, ele tem muito amor, e muita paixão por aquilo que faz. Eu só queria estar ao redor disso.

Jim: Sturgess: Nós éramos o único grupo de pessoas. E ficávamos na frente da câmera o dia todo, todos os dias. Nós eramos o único elenco do filme, na verdade. Assim que escapamos do acampamento éramos as únicas pessoas em cena, Não havia nem um tipo de cena bem definida. Você tinha que deixar rolar e parar de atuar, e realmente existir como uma dessas pessoas, e como eles agiriam nessas situações.



Ed Harris: Se você está no palco, está trabalhando para a plateia, e sente aquela energia, então sabe, ou espera que estejam prestando atenção. Quando você está trabalhando com Peter, você sabe que ele está prestando o máximo de atenção no que você está fazendo. Em qualquer palavra que você diz, em cada modulação de voz, qualquer fio de roupa, qualquer botão, qualquer fio de cabelo, a maquiagem, não importa qual seja. E você sabe que ele está te encorajando a fazer o seu melhor trabalho.

Você fez um grande intervalo entre este projeto e Mestre dos Mares, que foi o seu anterior. Você prevê mais uns sete anos, ou já tem alguma coisa que...

Peter Weir: Olhe para mim, acha que eu consigo? Quanto tempo me resta?

Mas é sério. Eu sou um grande fã seu, e dói saber que eu esperei sete anos desde seu último projeto. Não, eu não quero esperar mais sete anos.

Peter Weir: Eu estou pronto para outra,  mas eu não tenho uma história. Eu tenho de passar por este processo de encontrar algo que me interesse profundamente, para então eu começar a trabalhar. Meu agente está me mandando coisas e eu vou lendo. Eu gostaria de voltar ao trabalho em apenas alguns anos.

Com certeza. Muito obrigado.


Em breve o comentário de "Caminhos da Liberdade" aqui no CINEMOVIES...
Leia Mais

sábado, 21 de maio de 2011

ENTREVISTA JUDE LAW (FESTIVAL DE CANNES)


O ator e produtor inglês Jude Law já esteve em Cannes em 2007 para apresentar o filme de Wong Kar Waï, Um Beijo Roubado, que fez a abertura do 60º Festival de Cannes. Este ano regressa como membro do Júri dos Longas Metragens.


Qual foi o seu sentimento quando o Festival lhe propôs de fazer parte do Júri?
Evidentemente, fiquei muito contente, excitado e como em tudo o que nunca se fez antes, um pouco nervoso! E cada dia ultrapassou as minhas expectativas, vivo uma das melhores experiências da minha vida. É muito importante, comovedor mesmo, de ter a oportunidade de concentrar-se realmente sobre os filmes como uma arte, de ter a responsabilidade de discutir deles com pessoas formidáveis, de ver filmes que vêm de todo o lado, e que têm uma diversidade incrível. É um relance do meio de expressão importante, especial e potente que é o Festival. Tenho muita sorte.


Você atuou em Gattaca ao lado de Uma Thurman (1997) e hoje é membro do júri junto a ela Pode contar-nos algo sobre o trabalho de vocês juntos?

Foi um dos meus primeiros filmes, isso foi há muito tempo! Foi o meu primeiro filme nos Estados Unidos, em Hollywood. Uma e Ethan já eram atores conhecidos. A minha recordação mais impressionante é de guiar carros magníficos com duas pessoas incríveis, e tinha esse sentimento de ser um fantasma, o que toda a gente tem a propósito do cinema de Hollywood. Ambos eram realmente simpáticos e me ajudaram  em relação à minha falta de experiência.

O que é que o Festival traz ao Cinema, a seu parecer? 
É um festival muito importante. Pondo de lado as festas, o glamour e os negócios aqui concluídos, o que aprendi este ano é a celebração da arte, uma recordação do que pode ser inovador, uma arte estimulante que fala uma linguagem universal. É também a arte de contar uma história, muito complexa, e tão importante. Precisamos sempre da nossa imaginação e de ouvir histórias, quer sentados à volta de uma fogueira, quer no Palais a ver filmes.

Neste Júri você está cercado de artistas vindos do mundo inteiro, isso dá-lhe vontade de atuar em filmes de realizadores estrangeiros?
Absolutamente! Aprendi tantas coisas à cerca de realizadores que não conhecia. Sempre quis atuar num filme falando outra língua. Em francês, seria talvez o mais fácil, porque falo um pouco de francês – os meus pais vivem aqui, o que me dá a ocasião de aprendê-lo e melhorá-lo. Trabalhar numa língua estrangeira poderia ser uma verdadeira fonte de inspiração, uma oportunidade de ultrapassar os meus limites, seria certamente uma belíssima experiência.

O que é que lhe deu vontade de fazer filmes?
Era um grande fã de Cinema, adorava isso. Adorava a proximidade física, quando se está no escuro e que alguém nos conta uma história! E sempre gostei de fazer parte dessas histórias.
 
Qual é a sua primeira recordação de Cinema?
Charlie Chaplin, acho eu. O meu pai tinha o hábito de projectar os seus filmes na parede durante as festas. É uma lembrança muito intensa. E Harold Lloyd. Há muitos filmes que poderia ver sem cessa, por exemplo: Ladrões de bicicletas e O Presidiário

Também atua no Teatro, em Londres ?
Comecei a minha carreira em cima do palco, só comecei a atuar em filmes a partir dos vinte anos. E nessa época, não pensava trabalhar no Cinema porque onde cresci, em Londres, é um mundo que nos parecia realmente longínquo! Mesmo se amando isso, não fazia parte do meu ambiente. O Teatro, para mim, é um lugar em que me sinto livre de expressar-me. Gosto da exigência que isso requer a um ator, o direto, ter a sorte, uma vez que a cortina se levanta, de viver essa magia e esse sentimento que, seja o que acontecer, vai-se até ao fim. Também gosto da sensação de redescobrir o papel todas as noites, com um público diferente, a atmosfera, o humor da sala… Tudo influi sobre a interpretação. O Teatro é realmente muito importante para mim.

Quais são os seus projetos?
Atuo numa peça de Eugene O Neill que se chama «Anna Christie» no Donmar Warehouse em Londres este Verão, começa em Agosto. E a seguir vou interpretar o filme de Joe Wright sobre Anna Karenine.

O que é que o inspira?
Os meus filhos, os realizadores, os artistas…

Gosta da idéia de transmitir o amor do Cinema aos seus filhos?
Sim, adoro mostrar filmes aos meus filhos. E gosto de ouvi-los contar os filmes que viram. Neste momento, vivo um período muito particular porque o meu filho mais velho tem quatorze anos, por isso posso mostrar-lhe todos os filmes que vi quando tinha a sua idade, os que me deram o amor do Cinema. É uma oportunidade para mim, dar-lhes a conhecer os grandes realizadores que me inspiraram. É maravilhoso. Fazer descobrir um filme, explicar o que isso significa para nós, é um verdadeiro presente.
Leia Mais

quarta-feira, 4 de maio de 2011

TSOTSI - INFÂNCIA ROUBADA


A verdade nua e crua da realidade Sul-africana


Quando se fala na África muitas coisas vem a sua mente, mas com certeza cinema não é uma delas, ou pelo menos não era. Assim como em várias partes do mundo o cinema tem dado sinas de vida nos lugares mais inesperados e inimagináveis, e é da África do Sul que vem esse bom drama que ganhou o oscar de melhor filme estrangeiro em 2006, desbancando os  favoritos daquele ano, como o francês 'Joyeux Noel' e o palestino 'Paradise Now', ganhador do Globo de Ouro. 
Muitos descreveram o filme como uma mistura de Cidade de Deus e Crash - No Limite (vencedor do Oscar daquele ano) ou o "Cidade de Deus sul-africano". É um certo exagero, mas não podemos ficar indiferente a esse ótimo filme.






Tsotsi que na gíria das ruas de Soweto significa "bandido" (interpretado por Presley Chweneyagae na sua primeira e ótima  interpretação no cinema) é um jovem de 19 anos, líder de uma gangue que  é formada por Butcher - o violento do grupo (Zenzo Ngqobe), Aap - o palerma (Kenneth Nkosi) e Boston , conhecido como professor - o filósofo do grupo (Mothusi Magano). 
A gangue vive de pequenos golpes e após assassinarem um senhor num metrô numa tentativa de assalto a gangue começa se desfazer quando um dos membros, Boston, decide sair da gangue contestando a decência de Tsotsi que acaba espancando-o num bar. 
Após a confusão Tsotsi sai pelas ruas indo parar num bairro de classe média (mostrando a grande desigualdade social sul-africana) , quando assalta e atira em uma mulher, Pumla (Nambitha Mpumlwana) na entrada da sua casa. Após fugir com o carro ele percebe que uma criança recém-nascida ficou no banco traseiro.
Assustado Tsotsi foge com a criança e nos seis dias seguintes (em que se passam o filme) tentará cuidar da criança e ficar longe do foco da polícia. 
A convivência com a criança o remete ao passado, quando convivia com sua mãe em fase terminal e seu pai alcoólatra e resolveu fugir, indo morar na rua com outras crianças e dormindo em tubos de concreto, lugar que ele leva a criança ao tentar demonstrar a ela uma definição de lar.





Totalmente perdido com a nova realidade Tsotsi vai em busca de Mirian (Terry Pheto), uma mãe que ele observava há muito tempo da janela da sua "casa"  na coleta de água e a força a alimentar a criança e mais uma vez é "alçado" da sua realidade ao se deparar com um novo sentimento pela criança e por Mirian.
O Diretor Gavin Hood (que mais tarde viria a dirigir o drama "O suspeito" - com Jake Gyllenhaal e "X-Men Origens: Wolverine) acerta ao mostrar os fatos sem buscar explicações para as atitudes e rumos que Tsotsi tomou na sua vida, cercado de pessoas que assim como ele , não tiveram oportunidade e pela pobreza das favelas sul-africanas fotografada de maneira sublime por Lance Gewer.





Vale destacar também a boa trilha sonora do filme.
"Tsotsi" é uma có-produção entre Inglaterra e África do Sul e foi baseado no livro homônimo do dramaturgo Athol Fugard que se passava nos anos 50 no início do Apartheid e foi readaptado para os nosso dias. 
O filme arrecadou quase 500 mil dólares em quatro semanas de exibição e ganhou  prêmios importantes nos festivais de Toronto, 
Edinbrugo e Los Angeles.


Tsotsi é um retrato de uma realidade nua e crua bem parecida com a nossa (há muita semelhança com nossa maneira "social " de se fazer cinema), que não apela para sentimentalismos baratos, dialogos existencialistas e explicações filosóficas ou tendenciosas. É apenas uma realidade que tenta ser evitada com muros e grades, mas que as vezes, assim como aquela família, acaba sendo transposta....


NOTA: 7,5


Direçãoo: Gavin Hood. 
Gênero: Drama
Elenco: Presley Chweneyagae, Mothusi Magano, Jerry Mofokeng, Zenzo Ngqobe, Kenneth Nkosi, Percy Matsemela, Thembi Nyandeni, Terry Pheto, Benny Moshe, Nambitha Mpumlwana, Rapulana Seiphemo, Zola, Jerry Mofokeng. 
Tempo de Duração: 94 min
Nacionalidade: Reino Unido / África do Sul, 
Ano: 2005.






legenda:

Leia Mais
CINEMOVIES: O CINEMA EM SUA TELA!!!